terça-feira, 2 de julho de 2013

"MAIS UMA VEZ...."


O PENSAMENTO ESPORTIVO foi procurar Rayane Oliveira, de 17 anos, uma joia da marcha atlética pernambucana, campeã estadual, norte nordeste, brasileira e sétima colocada no Pan Americano da Guatemala, neste ano, mas quando chegamos no local da entrevista vimos algo muito maior. Pudemos presenciar o trabalho da “Associação Atletas com Futuro”, fundado em 1992 e situado na escola Prof. Izaura de França, no bairro de Caetés 1, em Abreu e Lima, ele é liderado pelo professor Roberto Ribeiro. Nossa entrevistada faz parte desse projeto que dá oportunidade a dezenas de crianças e adolescentes para desenvolver seus potenciais no atletismo, se alimentar e acima de tudo absorver bons valores. Lá pudemos perceber o quanto aqueles garotos e garotas amam seu líder, por isso, a entrevista será excepcionalmente com duas pessoas, a atleta e o seu treinador.
Entrevista com Rayane Oliveira

Pensamento Esportivo – Como você conheceu a marcha atlética?
Rayane Oliveira – Eu dei meus passos em 2007, mas eu não era tão boa assim, (risos) afinal não conseguia dar uma volta completa na escola, era preguiçosa também, mas aí depois meus amigos me incentivaram, meu treinador, então fui indo. Antes eu tentei diversas séries, salto com vara, nas barreiras, nunca passei, mas depois de um tempo meu treinador perguntou se eu queria o atletismo mesmo, eu respondi que sim, então ele disse para eu tentar a marcha atlética. Fui treinando e na “Copa Pernambuco de Marcha Atlética” em 2011, fiz um tempo legal, fui uma das melhores do ranking brasileiro e consegui a vaga o “Campeonato Brasileiro de Marcha Atlética”, mas logo depois, por questões de adolescente acabei discutindo com o meu treinador e ele disse que não queria trabalhar mais comigo. Roberto fez isso para abrir meus olhos, pois eu faltava treino, era uma completa irresponsável. Após oito meses ele me chamou para voltar e eu aceitei na hora, afinal é o que eu gosto.
PE – Depois dessa volta? Os resultados demoraram a acontecer?
RO – Não, na minha volta disputei o pernambucano mirim e fui campeã, lógico que não foi com o meu melhor tempo, pois tinha voltado há pouco tempo. 
PE – Você foi ganhando muitos títulos e houve um momento que você acabou indo para o juvenil (16 a 19anos) mesmo tendo condições de continuar na categoria menor (15 a 17 anos), me explica como foi essa decisão?

O – Eu estava treinando duro para Copa Brasil (de marcha atlética) de 2013, então nós estávamos pensando se eu competiria na categoria menor ou no juvenil, se fosse na menor eu ganharia, mas só teria vaga no Pan Americano (de marcha atlética) se eu fosse para o juvenil. Meu treinador perguntou se eu confiava em mim, aí eu pensei, eu vou ganhar essa prova. Fui e ganhei, fiquei feliz, mas não completamente, pois meu amigo, Lucas Gabriel, também tentava uma vaga para o Pan Americano e acabou não conseguindo.
PE – Qual a importância do seu treinador na sua formação não só de atleta como pessoa?
RO – Essa pergunta é fácil. Meu treinador é tudo, amigo, companheiro e pai, ele sabe coisas que meus pais não sabem, minha melhor amiga não sabe, nem meu namorado. Essa confiança se deve pela forma como somos tratados aqui, ele não apenas passa um treino, mas também nos acompanha em tudo, se Roberto pudesse, moraria na casa de um cada um de nós. Eu treinador  passa muitos valores, assim como também nos alerta para não sair na noite, beber ou comer besteira. Quando crescer, eu quero ser como ele.

Entrevista com Roberto Ribeiro

Pensamento Esportivo – Quais são as metas que você e sua atleta traçam para os próximos anos?
Roberto Ribeiro – Agora falar dela é fácil, afinal ela é campeã brasileira, mas eu gostaria que você me perguntasse isso há três anos atrás, quando Rayane não dava nem uma volta na aula de educação física. Ela é campeã nacional hoje dos 5km e dos 10km e acredito que ela é uma das melhores nos 20km, mas só poderemos confirmar isso daqui a uns dois anos, eu vou esperar, Rayane talvez espere, mas será que as pessoas vão esperar? Quantos tem muito potencial e param? Se você me perguntar se Rayane tem potencial, eu respondo que todos do projeto tem, mas ela é diferenciada. O objetivo para Rayane não sou eu que traço, nós traçamos. Meu sonho? 2016. Agora para ela estar lá não depende de mim, depende dela e entre mim e ela tem uma série de fatores, por exemplo, hoje (28 de junho, dia da apuração da entrevista) ela deveria estar na Bolívia, num estágio com as melhores atletas da marcha atlética e ela está agora em Caetés 1...
PE – E por que ela não está treinando na Bolívia?
RR – Porque falta planejamento da parte de alguns. Rayane tem a “Bolsa Time 10” do governo do estado de Pernambuco e até hoje não saiu. Nós pedimos recursos para ela viajar e tivemos nosso pedido negado, então alguns tem de avaliar se ser atleta é mendigo ou é profissão.
PE – A Rayane hoje é uma atleta com uma trajetória muito mais consolidada, mas tem outros no projeto que daqui a alguns anos possam alcançar esse patamar conquistado por ela?

RR – Todos tem potencial para isso, mas não tem o investimento para ajudar no desenvolvimento de um atleta de ponta, pois fora Rayane, tantos outros não continuaram. Há um problema muito grande na transição do juvenil para o adulto, muitos deles param, afinal eles precisam ganhar a vida, pois não se tem incentivo no esporte. A gente faz isso aqui há muitos anos, não era para estar melhor do que está? Nós fomos os primeiros do Brasil a conquistar medalhas em mundiais, mas ninguém está cabisbaixo, estamos trabalhando. 
PE – Você que já trabalha no esporte há tanto tempo, o que precisaria ser feito para fazer os investimentos certos para melhorar os esportes em Pernambuco?
RR – Tem que ter pessoas sérias, deixar de tanta burocracia e gente com visão, chamar os profissionais certos para desempenhar cada função, se fosse assim, não precisaria gastar com outras pessoas, projetos e outras necessidades, pois nessa situação atual, os atletas precisam mendigar para desempenhar o seu papel. Uma palavra resume isso, seriedade. Brinca-se de treinador, de atleta e de dirigente nesse país.